O poeta pantaneiro, Manoel de Barros gostava de “desconstruir” palavras em seus exercícios de escrita. Me recordei dele, ao pensar nas recentes atitudes do Congresso Nacional, de onde deveriam sair decisões importantes para o país. Mas não é exatamente o que presenciamos. Tudo parece de ponta-cabeça tal qual a ilustração.
Desconstruindo o presidencialismo, o parlamento, refém de ações de um forte grupo denominado de Centrão, – que agrega dentre outros, os representantes das bancadas da bala, boi, bíblia e agora, bets, de maneira propositadamente equivocada, passa aos eleitores a sensação que esse congresso parece jogar contra o país.
São políticos fisiológicos que esquecem que seus verdadeiros patrões são os eleitores brasileiros. Operando por vezes, interesses rasos, imediatos e pessoais.
São favoráveis a proposta da destruição da legislação ambiental referente ao licenciamento. Por pressões e lobbies poderosos, se posicionam contra a taxação dos mais ricos, mas a favor de não taxação dos jogos de azar.
São contrários a transparência no trâmite das emendas parlamentares, tentando de toda maneira ocultar responsabilidades e efetividades no destino de recursos a essas emendas, mas não propõem projetos estratégicos de longo prazo para o país na área de finanças, estrutura, educação, saúde e meio ambiente.
Em um notório caso de fisiologismo, o senado aprovou o aumento do número de integrantes de 513 para 531 com um custo previsto de 95 milhões de reais por ano, além de um efeito cascata nas câmeras legislativas estaduais.
Presenciamos um Congresso atuando como se fosse um regime parlamentarista em um sistema constitucionalmente presidencialista. Em vez de elaborar ações propositivas ao país, exercem maioria contrária ao atual governo em um raso pensamento de prejudicá-lo.
É “prá” lamentar o isolamento do poder executivo pelo legislativo pensando apenas nas próximas eleições.
A próxima cartada que está no horizonte dessa força retrógrada e conservadora é eleger o maior número de senadores no próximo pleito, exercendo pressão para alterar a constituição, para reduzir a autonomia da suprema corte, alterando a independência dos três poderes pétreos.
Conseguirão? Se não houver reação, ao menos tentarão.
Se a sociedade esclarecida e progressista, não se engajar em um processo de reação a essas projeções que já estão no radar do Centrão, é provável que teremos que amargar retrocessos na área ambiental, moral e cidadã.
Mundo à fora, presenciamos o declínio das grandes democracias ocidentais e uma ascensão de valores isolacionistas, xenófobos e por vezes, fascistas.
Manoel de Barros diria, esse atual Congresso, é “prá” lamentar.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.