Turismo de Base Comunitária

Vocês já vivenciaram a experiência de um Turismo de Base Comunitária (TBC)? Nas férias de julho, eu e minha família, nos enveredamos por cachoeiras, veredas, rios azuis e verde esmeralda, em terras quilombolas e municípios com grande potencial ao TBC.

Fizemos um roteiro de 1.000 km a partir de Brasília (DF), por estradas asfaltadas, que nos permitiu conhecer Cavalcanti em Goiás – (GO), Aurora do Tocantins no limite entre Tocantins com a Bahia e retornar para São Jorge – GO.

Na terra quilombola dos Kalunga, vivenciamos uma gestão bem-organizada entre guias, transporte para as atrações e um delicioso restaurante comunitário com comidas típicas. O principal atrativo, a cachoeira de Santa Bárbara com suas águas azuis estava lotada de turistas que optavam por uma experiência de TBC. Seu Cirilo, de 79 anos, líder comunitário nos explicou como, – nesses mais de duzentos anos de existência na região, os quilombolas foram resilientes a escravidão, aos tempos do garimpo e da tentativa de grilagem de suas terras.

Distante uns 200 km de Cavalcanti, encontra-se Aurora de Tocantins com suas águas azuis, cachoeiras e passeios naturais ainda pouco explorados. O turismo de natureza nesta região ainda requer boas opções de estadia, mas a cidade já se prepara para uma ascensão do fluxo de turistas na procura de um Brasil profundo. A cidade é lindeira a Serra Gerais, que limita os estados de Tocantins e Bahia, apresentando uma transição entre o cerrado e a caatinga.

Os moradores denunciam que os pivôs centrais dispostos em cima dos platôs da Serra, no estado da Bahia, vêm diminuindo a oferta de água para os rios da região, que estão em rápido processo de assoreamento. Há indícios que a fauna nativa vem rareando pela redução de oferta de alimentos e de áreas naturais.

Caso um Termo de Ajuste de Conduta não seja estabelecido para controlar a retirada de água dessas verdadeiras caixas d’água de calcáreo chupadas pelo agro baiano, – assoreando e erodindo as encostas, um conflito de interesse entre as atividades econômicas colocará em xeque o futuro do TBC municipal.

Por fim, retornamos a São Jorge, entrada do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. O vilarejo vem se transformando em um exemplo de como o turismo de natureza pode ser complementado por outras agendas que estimulem e diversifiquem o calendário turístico local.

Recentemente toda calçada, a vila apresenta opções simples e sofisticadas de hospedagem e serviços de alimentação.

O TBC tem um potencial enorme para um Brasil tão diverso. Entretanto capacitações constantes e melhoria de infraestrutura receptiva tem muito ainda a se desenvolver.

 

Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, Mestre em Conservação da Natureza, Biólogo e Escritor.

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