Sebastião Salgado, 81anos, foi um dos meus ídolos na fotografia e na restauração de ecossistemas. Nunca tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, mas acompanhei sua trajetória profissional sobre os valores da vida, da sociobiodiversidade e das paisagens remotas da Terra, visitando algumas de suas exposições.
Em 2023, quando eu aprimorava meus desenhos profissionais para trabalhar com Facilitação Gráfica fiz a ilustração digital acima, baseando-se na trajetória do fotógrafo e ambientalista. Compilei suas origens rurais em Minas Gerais, a busca por estudos na capital, a militância em tempos de chumbo e seu exílio da França, onde passou a trabalhar com consultorias na área da economia em países africanos, para o Banco Mundial.
Foi por meio de sua companheira, Lélia Wanick Salgado, – arquiteta e editora de seus projetos gráficos, que manipulou uma máquina fotográfica pela primeira vez, sem nunca mais parar.
Denunciou atrocidades, migrações, desequilíbrios ambientais e genocídios que lhe causaram tamanha depressão pelas injustiças sociais, obrigando a auto se refugiar em suas origens, e de lá, por iniciativa de sua esposa, criar o Instituto Terra, nas propriedades herdadas do pai dele.
Restara da Fazenda Bulcão 0,5% dos 50 % que eram originalmente cobertos pela Mata Atlântica quando ele era criança. Lélia propôs repor a floresta para “reconstruir o paraíso”.
Foram mais de 7 milhões de mudas plantadas, e retornaram 2.000 nascentes para a bacia do rio Doce, já tão afetado pelos desastres ambientais de Mariana e Brumadinho. Sebastião tinha a convicção que essa experiência regenerativa poderia ser replicada em qualquer lugar do mundo.
Captou recursos para execução da regeneração e sua vontade de fotografar retornou. Foi essa nova meta em sua vida que lhe impulsionou não somente a restauração utilizando-se mais de 200 espécies nativas, mas o estimulou a buscar os restantes 43% de áreas no planeta, que se mostravam ainda íntegras, resultando no famoso Projeto Gênesis.
“Não podemos voltar atrás, mas podemos reconstruir”. “Precisamos reconstruir florestas, precisamos preservá-las” – diria.
E assim, em tempos de um Senado Federal desmontando as Leis de Licenciamento Ambiental com o péssimo Projeto de Lei 2.159/2021, e agredindo violentamente com misoginias, racismo e machismo a Ministra Marina Silva, que Sebastião Salgado deixa como legado a necessidade urgente de estabelecer critérios de regeneração em larga escala.
Regenerar nossos biomas deveria ser uma das políticas públicas prioritárias nesse momento de enfrentamento a crise climática que prevê temperaturas ainda mais elevadas até 2029, segundo novo boletim da ONU.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.