No dia 6 de dezembro, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, fez questão de recepcionar o Cacique Raoni Metuktire, de 92 anos, em Nova Iorque.
Raoni estava na cidade a convite da Missão Permanente do Brasil junto à ONU para falar sobre mudanças climáticas e a defesa da floresta amazônica. Líder respeitado dos Kaiapós, cujo nome, em Mebêngôkre, significa “aqueles que vieram do fundo da água”, Raoni é símbolo de luta e resistência.
A Neotrópica Sustentabilidade Ambiental teve o privilégio de participar desse encontro, convidado pelo Ministro-Conselheiro, José Gilberto Scandiucci.
Raoni chegou em cadeira de rodas, agasalhado contra o frio de 2°C. Cumprimentou-nos calorosamente ao saber que éramos brasileiros e apertou firme a mão de meu filho de 18 anos, como um avô acolhedor.
Durante sua fala, queria saber a origem de cada uma das pessoas da sala. Seu neto traduzia do Kaiapó para o português, enquanto outros intérpretes auxiliavam no inglês.
Representantes de países como Dinamarca, Alemanha, Equador, França, Noruega, Suécia, Indonésia, Austrália, Índia, Nepal, Estados Unidos, Colômbia, Filipinas, Fiji, Espanha, Japão, Reino Unido, Fiji, Paraguai e Brasil, estiveram presentes para ouvir sua mensagem.
Raoni falou sobre a importância de manter as florestas em pé para conter as mudanças climáticas.
“Éramos todos irmãos até a cobra morder alguém. Falávamos a mesma língua”, disse, emocionando o público. Em Kaiapó, alertou: “Os ancestrais veem os problemas do mundo – guerras, destruição de florestas – e não aceitam isso. Devemos parar os conflitos para viver de forma saudável.”
Desde jovem, antes mesmo do contato com os Irmãos Villas-Bôas, Raoni já defendia a preservação da floresta. Aprendeu português para lutar por sua causa e alertou que “a Terra está ficando quente, o sol está muito forte“.
Segundo ele, as populações indígenas precisam de apoio financeiro direto, sem intermediários institucionais que desviem recursos.
“O que resta das florestas deve ser protegido. As árvores são nossas mães, e nossa missão é cuidar delas. Precisamos deixar essa terra para a sobrevivência das futuras gerações. Hoje, jovens indígenas, como meu neto, continuam lutando pelos territórios e por suas famílias.”
Raoni expressou o desejo de usar as tecnologias do “povo branco” para conservar a floresta e lembrou sua participação na criação do Ministério dos Povos Indígenas, que considera um marco para desenvolver planos que envolvam os jovens indígenas na proteção de suas terras.
Sua fala foi encerrada sob aplausos comovidos dos representantes internacionais. O Velho Guerreiro, verdadeiro pacifista, reafirma seu compromisso com a preservação ambiental.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.