Parques Esponjas

Os rios para as populações originárias são entidades sagradas. Merecem respeito e são venerados. Para os brasileiros em geral, os rios sempre foram lugares lúdicos. Amazonas, Tocantins, Rio Grande do Sul, Paraná, são exemplos de nomes de estados referenciando rios.

Quem não se recorda de um rio límpido de nascentes cristalinas, córregos, regatos, riachos, ribeirões, e gigantescos rios, distribuídos pelas doze bacias hidrográficas brasileiras? No final da década de 90, o biólogo e ambientalista paranaense, Roberto Langue, defendia, que o rio Tibagi, – um dos importantes tributários do rio Paraná, fosse considerado um rio cênico, preservado e livre de hidroelétricas. Não conseguiu.

Após quase dez anos de tramitação, a Lei nº 9.985/2000 que criou o Sistema Nacional de Unidades de Conservação, suprimiu do texto final, três categorias importantes ao sistema nacional. Os grandes Corredores Ecológicos, os rios cênicos e as estradas-parque.

Duas décadas, após, as bacias hidrográficas urbanas foram se deteriorando. A mecanização da agricultura contribuiu para o fluxo migratório do campo para as cidades, e a necessidade de assentamentos irregulares em áreas úmidas ou de encosta. A Defesa Civil contabiliza 4 milhões de brasileiros vulneráveis a eventos climáticos extremos. Estes adensamentos urbanos passaram a ver os rios como esgotos a escoar todo o lixo orgânico e industrial.

Uma boa prática vem da cidade de Curitiba – PR. Após muitas inundações dos seus principais rios, soube, na década de 70, adotar à ideia de Parques Lineares em sua rede de drenagem, que servem de esponjas para a retenção do aumento rápido da carga hídrica. O Urbanista Jaime Lerner e sua equipe criaram uma sequência de áreas verdes à margem dos principais rios da cidade, com o objetivo de ampliar os parques municipais, adotando o conceito que atualmente se denomina de Parques Esponjas ou alagáveis. Visavam a preservação de remanescentes florestais urbanos, bem como contenção em seus lagos artificiais, de águas que poderiam destruir bairros periféricos e carentes.

Este conceito de tornar as cidades mais porosas não é recente. Em 1986 no Seminário Brasileiro Germânico de Meio Ambiente, realizado pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba – IPPUC, uma palestra me chamou a atenção para a experiência de tornar mais permeáveis as cidades e os rios urbanos na Alemanha. Atualmente, o Parque Barigui, com mais 140 hectares é um dos principais cartões postais da capital paranaense. Quando o rio transborda ocupando as pistas de passeio, mitiga tragédias, pois o planejamento urbano, respeitou o espaço natural do corpo hídrico, permitindo que logo drene o fluxo atípico, bem como, se infiltre nos grandes gramados, fragmentos de florestas e áreas de restauração natural composta de espécies nativas.

 

Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo, escritor.

 



Confira mais opiniões em nosso LinkedIn:
https://br.linkedin.com/company/neotropica-sustentabilidade

Compartilhe:

Ir para o conteúdo