Sou da última geração analógica e a primeira digital. Em um mundo que empacota tudo com plástico, até frutas, como você se sente em suas bolhas sociais? A internet lhe consome ou você consegue consumi-la, permanecendo no domínio?
Lembro das primeiras buscas na internet nos anos 90. Havia euforia. Acreditávamos no acesso irrestrito ao conhecimento. Para minha dissertação de mestrado, precisei ir a uma universidade federal, agendar uma busca e receber uma lista impressa de referências. Com o tempo, a internet ampliou fronteiras, permitindo acesso a informações de qualquer lugar.
Mas algo mudou. Algoritmos criaram macro-bolhas, nutridas por redes sociais, fragmentando a sociedade. Agora, vivemos em um mundo polarizado, onde a visão oposta pouco importa. No início, a internet parecia expandir horizontes. Hoje, estamos presos a bolhas de amigos, colegas e interesses. Romper esses confinamentos é raro.
Na posse de Trump, bilionários das redes sociais estiveram presentes, dando aval a estratégias que sobrecarregam a sociedade com informações incessantes. É um método proposital disseminado pelo ex-marqueteiro presidencial, com o objetivo de lançar informações seguidas para dificultar a reação. Estamos diariamente sendo inundados de informações sem tempo para avaliação, o que nos tira o foco e nos deixa cada vez mais superficiais em termos de conteúdo e reação.
Na nossa bolha sobre temas ambientais, o Brasil possui leis avançadas. Mas de que adianta, se na bolha oposta há políticos defendendo retrocessos? A ciência luta para influenciar políticas públicas, mas enfrenta dificuldades de comunicação.
Um exemplo recente: a pressão deselegante do Presidente sobre o IBAMA para liberar perfurações na foz do rio Amazonas, às vésperas da 30ªConferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, que será realizada em Belém, no Pará. Ao mesmo tempo, por influência do Ministro de Minas e Energia, o governo busca um assento na Organização dos Países Produtores de Petróleo – OPEP, dominado por ditaduras. Que mensagem contraditória o governo transmite? De um lado, quer liderar pautas ambientais; de outro, aproxima-se de uma organização retrógrada que dita o cartel dos combustíveis fósseis, evidenciando bolhas decisórias dentro da própria gestão.
O debate que poderia avançar, mas não está na pauta, é a exigência de que esse petróleo, seja condicionado a reverter recursos significativos na transição para outras agendas de energia mais limpa. Estou desinformado em minha bolha? Ou esse assunto nunca foi tratado?
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.