“Alô, alô, marciano, aqui quem fala é da terra, pra variar, estamos em guerra”. Diria Rita Lee, tão atual.
Certa vez, em uma das brilhantes palestras do Professor Paulo Nogueira Neto (1922-2019), ficou evidente sua habilidade em ilustrar as dimensões das Unidades de Conservação (UC) amazônicas, como o Parque Nacional do Jaú (AM) e do Parque Nacional Montanhas do Tumucumaque (AP) comparando-os a área do Líbano (cerca de 1.000.000 ha).
Para uma juventude que não o conheceu, ele pode ser considerado o patrono, e um dos mais emblemáticos defensores da causa ambiental. Em seu livro lançado em 2010, “Uma Trajetória Ambientalista: Diário de Paulo Nogueira-Neto”, – disponível nas redes sociais, ele reúne sua experiência registrada ao longo de mais de 30 anos.
Entre 1974 e 1986, esteve à frente da Secretaria Especial de Meio Ambiente, órgão do governo federal vinculado ao Ministério do Interior, responsável à época, pelo setor ambiental no Brasil, podendo ser considerado o primeiro “ministro do Meio Ambiente brasileiro” pois, o Ministério do Meio Ambiente apenas fora criado em 1992.
Destaco sua participação de 1983 a 1986 na Comissão Brundtland, das Nações Unidas, como um dos dois representantes da América Latina, quando surge pela primeira vez a expressão “Desenvolvimento Sustentável”.
Suas histórias pela calha do rio Negro, são muito interessantes. Ele, após observar mapas do Projeto Radam (1970-1985), sobrevoou o arquipélago fluvial das Anavilhanas, colocando nos mapas da conservação, a exuberante UC, criada inicialmente como estação ecológica (1981) e recategorizada em 2008 para PN.
Mas há o Líbano real. Esta semana vi bombas caindo sobre o país, matando famílias, mulheres, crianças, e destruindo o que outrora foi conhecida como a “Suíça do oriente médio”, tamanho foi a importância cultural e comercial de sua cosmopolita capital, Beirut.
Nestes tempos em que gastos bélicos são infinitamente superiores aos de políticas de mitigação climática global, presenciamos o contraponto do dilema universal. Em um planeta finito, estamos consumindo seus ativos como se não houvesse amanhã.
Retornando ao foco brasileiro, o Professor buscava nos mapas do Radam, apenas as áreas da região amazônica sem aptidão agrícola (cerca de 40%).
Ele sabia que a aptidão da Amazônia é a conservação de seu bioma em pé, e desejava garantir parte das terras devolutas da união, na região fossem demarcadas como Terras Indígenas, ou UCs, beneficiando com pagamento por serviços ambientais populações tradicionais, com geração potenciais de cadeias produtivas para uma bioeconomia sustentável.
Por fim, acho que o mundo precisa mais de Rita Lee do que Ritalina. Mais negociação, concertação, paz e colaboração.
Roberto Xavier de Lima
Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.