Este é o primeiro artigo de uma série de narrativas que passarei a escrever na minha página. São mais de 35 anos de experiências profissionais sobre temas ambientais, que considero interessantes relembrar. Serão crônicas rápidas, adequadas ao nosso tempo, trazendo conteúdo próprio, vivenciado nas minhas andanças pelo país.
Em 1989, eu fui à Manaus – AM, participar do Congresso: Necessidades, Pesquisas e Estratégias para o Desenvolvimento Autossustentável da Amazônia, onde em uma mesa de trabalho estava presente o professor José Lutzenberger, – gaúcho, precursor de todos os alertas sobre os impactos do desmatamento e da necessidade de preservação das matas ciliares, bem como, denunciante do uso inadequado dos agrotóxicos. Se discutia à mesa, a expansão de um sistema de exploração cacaueira em florestas nativas, com utilização de agrotóxico.
Fiz uma pergunta ao palestrante, se isto não acarretaria a entrada de agrotóxicos em ambientes florestais e suas consequências. O notório saber, antes de me responder, emitiu uma expressão gutural ao microfone e me respondeu que primeiramente, não era agrotóxico, e sim, “defensivo agrícola”. Terminado a palestra, o Professor Lutzenberger, na mesma mesa, toma a palavra e responde olhando ao palestrante. — A palavra certa mesma é agrotóxico, diria – aproveitando para dar uma aula sobre as consequências da utilização destas substâncias nos ambientes e alertando para a supressão das florestas e matas ciliares para os monocultivos de grãos, e atividades pastoris em ambientes naturais no Rio Grande do Sul, sobretudo, no bioma Pampa, endêmico daquele Estado. Lutzenberger, foi um pioneiro sobre as mudanças climáticas fundando no ano 1971, a AGAPAN – Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural, uma das pioneiras associações ecológicas do Brasil.
Em 1976, lança o Manifesto Ecológico Brasileiro: O Fim do Futuro? Uma quase projeção do que, mais de 40 anos depois, seu Estado passaria. Vale à pena pesquisar e se inspirar na vasta biografia deste notório defensor da natureza para voltarmos a olhar com atenção a necessidade de planejamento ambiental de médio e longo prazo com mitigação de danos para nos adaptarmos as mudanças do clima.
Serão necessárias entre muitas medidas, uma restauração florestal em grande escala em todos os biomas brasileiros, tendo como estratégia territorial a atualização do Zoneamento Ecológico Econômico dos estados, repensando a figura dos grandes corredores ecológicos do extinto e exitoso Programa Piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil – PPG7 do MMA.
Fica registrado minha solidariedade ao povo gaúcho neste momento difícil de reconstrução. Que possamos aprender a planejar baseados em ciência e se inspirar neste pioneiro gaúcho, o professor José Lutzenberger.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo, escritor.
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