Quem é do milênio passado como eu, deve se recordar da queda do muro de Berlin em 9 de novembro de 1989, dissolvendo sem nenhuma violência, a potente União Soviética, e marcando o fim da Guerra Fria.
Mas, faltou à época, “combinar com os russos”. Explico: se o presidente estadunidense, George H.W. Bush, juntamente com os estados europeus acolhesse a solicitação de Mikhail Gorbatchov, – ex-Presidente da União Soviética, de incluir a Rússia no mesmo bloco europeu, ao invés de cercá-la com a expansão da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) para as nações periféricas conhecida como “cortina de ferro”, muitos problemas atuais – inclusive a guerra entre Rússia e Ucrânia, provavelmente não existiriam. Nem as tensões bélicas e tão pouco as migrações forçadas de quase 14 milhões de inocentes.
Os conflitos ao redor do mundo além de danos materiais e ecossistêmicos – pouco mensurados, provocam horda de desesperados que abandonam tudo para sobreviver. Também desencadearam migrações a guerra civil da Síria, o conflito israelense-palestino-libanês, a ditadura da Venezuela entre outros.
A escritora Wendy Brown, em seu livro Estados Murados: Soberania em Declínio (publicado no Brasil em 2023 pela editora Kazimira), aponta que o fluxo migratório causado por guerras e desastres climáticos tem aumentado. Ao mesmo tempo, fronteiras, inclusive as europeias e Norte-americanas, se fecham, gerando pressões políticas que estimulam o ressurgimento de um nacionalismo segregador, em ascensão no Ocidente. Novos muros surgem, criando problemas transnacionais na economia global e agravando os fluxos migratórios decorrentes dessas ações.
Além disso, estima-se que, em 2021, cerca de 22 milhões de pessoas tenham sido deslocadas por questões climáticas, devido a inundações, secas, incêndios florestais, tempestades e ao aumento do nível do mar. As projeções indicam que esse número pode chegar a 250 milhões até 2050.
Como a humanidade lidará com esses temas que tendem a se agravar, enquanto Nações Democráticas se isolam por trás de muros e promovem guerras comerciais e bélicas, muitas vezes sem considerar os danos ambientais dessas ações?
No Brasil, recentemente temos visto migrações climáticas forçadas, por causa de enchentes no Sul, da seca na Amazônia e de áreas de caatinga já desertificadas ou em processo avançado de desertificação, – que cobrem aproximadamente 126.336 km².
Essa situação tem consequências críticas para a população afetada, que muitas vezes precisa migrar para outras regiões, aumentando a pressão sobre cidades e as economias regionais.
Somente por meio de integração, cooperação e ações coordenadas poderemos enfrentar esses desafios críticos que assolam a humanidade.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.