“Meu ciclo já terminou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso”. Assim, em janeiro de 2025, José “Pepe” Mujica, 89 anos, ex-presidente do Uruguai, anunciou seu afastamento da vida pública, devido a um agressivo câncer. É desnecessário falar de seu carisma e sua capacidade humanística de pensar um novo mundo possível, com mais cooperação e menos acúmulo.
Movido por essa notícia, busquei conhecê-lo melhor, por meio do livro Chomsky & Mujica: sobrevivendo ao século XXI, do ativista mexicano Saúl Alvídrez, publicado pela Editora Civilização Brasileira.
Alvídrez, foi responsável pelo movimento #YoSoy123, também conhecido como a “Primavera Mexicana”, que se caracterizou por uma forte mobilização online e offline contra a política de privatização da educação daquela nação.
Em julho do ano de 2017, – um pouco antes que a pandemia da Covid-19 modificasse brutalmente as relações entre as pessoas e as cadeias produtivas de todos os países de 2017, Alvídrez propôs um encontro memorável entre Chomsky & Mujica, no sítio do ex-presidente uruguaio para um diálogo aprofundado sobre o presente e o futuro da humanidade. Noam Chomsky, hoje com 96 anos, linguista e pensador norte-americano, é crítico feroz das estruturas de poder e do capitalismo contemporâneo.
Imaginem a oportunidade que Saúl Alvídrez teve, em poder reunir, escutar, e entrevistar esses dois grandes pensadores da atualidade. O livro é resultado dessa conversa profunda onde ambos compartilharam a visão de que a cooperação deve prevalecer sobre o individualismo e o consumismo desenfreado.
O encontro abordou questões urgentes como as mudanças climáticas, o isolacionismo do governo Trump, o avanço do populismo, a crise do capitalismo e o desmatamento da Amazônia. Suas reflexões trazem à tona valores que parecem esquecidos: cooperativismo, solidariedade, justiça social e o fortalecimento da democracia.
Comovente e necessário, o livro nos convida a repensar os rumos da sociedade global. Diante do recolhimento do “guerreiro”, é impossível não acreditar que outra forma de gestão mundial — baseada na colaboração entre pessoas e nações — ainda é possível.
Para evitar um colapso civilizatório, afirmam, é preciso estimular o debate, valorizar o cooperativismo e ampliar a participação de grupos marginalizados nas decisões políticas. O estado democrático de direito, que permita voz e atuação de diversos segmentos hoje marginalizados é a chave para a transformação.
“A vida não é só trabalhar”, diria Pepe. Recomendando que as pessoas tenham o direito de reservar parte de seus dias para fazer as atividades que gostam. Carpe dien. Colha seu dia.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.