Estamos comendo plástico

 

Quando li um artigo afirmando que consumíamos um cartão de crédito por semana em forma de microplásticos, não acreditei. Mas um estudo da Austrália, sugere que uma pessoa ingere cerca de cinco gramas de microplásticos por semana, peso semelhante ao do cartão.

Estamos nos “plastificando”. Médicos constataram também, a presença de microplásticos dentro do cérebro humano, na placenta e no leite materno.

Me recordo exatamente da transição nos anos 80, das garrafas de vidro retornáveis que havia nos mercados, por garrafas feitas de derivados de petróleo – o Politereftalato de Etileno- conhecido nas garrafas PET. As tradicionais sacolas de feira também foram substituídas na nossa sociedade por sacos plásticos. Frutas e verduras são vendidas embaladas em recipientes plásticos.

Também estamos “plastificando” o planeta. A consequência? Ilhas gigantescas de lixo flutuante comprometendo a vida marinha.

Nas periferias das cidades, os plásticos são descartados sem nenhum trabalho de educação ambiental. Cenas de rios entupidos de plásticos correm o mundo. Um guerreiro solitário na cidade de Colombo no Paraná, realiza um projeto desde 2017, de limpeza do Rio Atuba. Diego Saldanha – @ecobarreiradiegosaldanha, criou inicialmente uma barreira com garrafas PET para remover o lixo do rio. Durante esse período, já recolheu mais de 20 toneladas de resíduos.

Imaginem, se em cada município, houvesse este exemplo replicado como política pública, empregando mão-de-obra local. Teríamos resolvido parte do problema remediado internacionalmente.

Entre 5 e 15 de agosto, aconteceu em Genebra – Suíça, a 6ª Rodada de Negociações sobre Tratado Global contra a Poluição Plástica de Oceanos, que nada resultou. Os 185 países presentes, não conseguiram chegar a um consenso na proteção do meio ambiente e da saúde humana.

Claro que o principal culpado pelo desacordo foi o lobby das indústrias do petróleo, química, e países produtores contrários a qualquer limite de produção de plástico.

Um grupo com mais de cem países defendia propostas mais ousadas de redução da produção, e a delegação brasileira se omitiu.

O Brasil é o oitavo maior produtor de lixo plástico no mundo, despejando 1,3 milhões de toneladas desse lixo no Oceano Atlântico por meio de seus rios e cidades litorâneas.

Uma nova rodada sobre o tema está prevista para dezembro, após a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas – COP 30 – a ser realizada em Belém em novembro próximo.

Enquanto isso, continuaremos ingerindo plástico, torcendo que novas ecobarreiras de baixo custo possam gerar empregos e filtrar os lixos humanos que estão matando rios e alimentando ilhas de plásticos nos oceanos e mares.

 

Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, Mestre em Conservação da Natureza, Biólogo e Escritor.

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