“O que falta ao verde do mangue, é o vermelho do Guará”. Me recordo desta frase que o ambientalista Roberto Lange, sempre repetia sobre os manguezais.
Quando trabalhei entre 1990 e 2000 na área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba, localizada no litoral norte do Paraná passei a admirar e a compreender a importância dos manguezais na dinâmica da vida estuarina-lagunar, e sua importância para a renda da população tradicional que retira seu sustento da pesca artesanal.
Naquela época, o Guará, Eudocimus ruber, citada por Lange havia desaparecido das paisagens de Guaraqueçaba e Guaratuba – cujos nomes das cidades, se remetem a bela ave do mangue.
Atualmente, para o deleite dos turistas que podem apreciar o exuberante vermelho das penas, obtidas pelo consumo de crustáceos de onde retira o pigmento, apenas em Guaratuba, foram contabilizadas mais de 4.000 aves, comprovando o retorno deste animal, que traz equilíbrio a este ecossistema tão importante.
Em Guaraqueçaba, Seu Dário de Sousa, que era morador da barra do Superagui, adjacente ao Parque Nacional de mesmo nome, conhecedor das plantas locais, sempre dizia que havia três tipos de mangue: O vermelho Rhizophora mangle, o preto Avicennia schaueriana e o branco Laguncularia racemosa. E estava certo. Basicamente estas três espécies, associadas a gramíneas específicas do ambiente, são responsáveis pela trama de raízes que favorecem a vida estuarina para peixes, crustáceos, aves e mamíferos.
Em uma iniciativa da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura – Unesco, os manguezais ganharam o dia 26 de julho para refletirmos sobre a conservação deste complexo ecossistema.
No Brasil, eles se estendem no nosso litoral, desde o estado de Santa Catarina, até o Amapá. Além de serem reconhecidos berçários para a vida marinha, abrigando entre suas raízes aéreas diversas formas de vida, os manguezais cumprem uma função primordial na contenção da erosão marinha, amenizando efeitos destruidores de tempestades, ciclones, furacões e até tsunamis.
Em termos globais, suas áreas originais estão cada vez mais reduzidas por ocupações irregulares, especulação imobiliária, e destruídos por dejetos humanos, aterros e abertura de tanques para cultivo de camarões por grandes empresários.
Acredita-se que nos últimos quarenta anos, sua área teve uma redução em 50% e o processo de destruição está muito mais acelerado que o das florestas, com perdas incalculáveis para o ambiente e a economia local.
Os solos dos mangues são fantásticos sumidouros de carbono. Aproximadamente, dois terços ficam retidos na vegetação devido a pouca concentração de oxigênio dos terrenos alagados. Segundo os cientistas, os manguezais possuem uma capacidade de estocar carbono, superior às florestas continentais cumprindo uma importante função na regulação do clima.
O mangue, é fonte de recursos para diversas populações tradicionais que se utilizam deste ambiente em sua sociobioeconomia. Estima-se que globalmente, 200 milhões de pessoas dependam dos manguezais para a obtenção de proteínas e alimentos para suas famílias.
Neste território de vida riquíssima, saem o sustento de famílias que trabalham, como marisqueiros, catadores de moluscos e de caranguejos. São quilombolas, ribeirinhos, pescadores, indígenas, pescadores artesanais, entre outros.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo, escritor.