Qual seria a relação entre Darcy Ribeiro e Warren Dean? Enquanto o primeiro, dentro de muitos feitos, nos presenteou com o livro “O Povo Brasileiro”, o segundo escreveu “A Ferro e Fogo”. Ambas as leituras são imprescindíveis para compreender como foi devastadora, nestes mais de cinco séculos, a ocupação da costa brasileira pelos portugueses e como se efetuou a miscigenação deste europeu, com o indígena e o africano para gerar, o que se passou a reconhecer como o brasileiro.
Tudo isto aconteceu tendo ao fundo, a exuberante e mais rica floresta tropical do mundo, sendo explorada e destruída para a favorecer a ocupação rumo ao interior do continente. Nestes últimos três séculos, a partir da chegada de Dom João VI ao Brasil, diversos naturalistas europeus vieram descrever e ilustrar as novas espécies Neotropicais, sempre com admiração pela riqueza e exuberância dos nossos bosques tropicais. Hoje, restam da Mata Atlântica, aproximadamente 7% desta floresta em um estágio considerado maduro. Outros biomas sofrem do mesmo ciclo destrutivo. O cerrado, já convertido em monocultura em mais de 50% de sua área original E a Floresta Amazônica, corre aceleradamente para um processo de não retorno em seu equilíbrio ecossistêmico. O Pantanal seca e continua em chamas. O Semiárido nordestino se converte em deserto.
Dia 17 de julho, se comemora o Dia da Proteção às Florestas, em tempos de eventos climáticos extremos, se faz necessário políticas públicas abrangentes e de longo prazo, tanto para a proteção dos remanescentes florestais e biomas associados, quanto a restauração e desenvolvimento de mecanismos para ganho em escala, para favorecer a inclusão de valores da bioeconomia na sustentação das florestas em pé.
Enquanto o valor de uma terra nua for reconhecido pelo mercado como maior do que uma área florestada, será difícil ampliar e valorizar as diversas cadeias produtivas originárias das florestas brasileiras.
Está sendo a ferro e fogo, como diria Dean, que estamos destruindo não só a Floresta Atlântica, mas a de Araucária, a Amazônia, o Cerrado o Pantanal e a Caatinga. Se o Projeto de Lei N° 3334/2023, for aprovado pelo Congresso Nacional, o Brasil poderá perder uma área equivalente ao Uruguai devido a proposta que quer ampliar a área que donos de fazendas na Amazônia poderão desmatar em suas propriedades. No dia de Proteção às Florestas, fica o alerta de como grande parte do atual Congresso Nacional, não se preocupa com o Patrimônio Natural dos brasileiros. Nas próximas eleições, é importante, para o futuro dos nossos netos, lembrar disto.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo, escritor.