Qual sua árvore favorita? A pergunta é difícil em uma riqueza de opções apenas da flora brasileira. Eu votaria na Araucária angustilolia, o Pinheiro-do-paraná.
No dia 24 de junho, se comemora o dia nacional da Araucária. Um símbolo de uma floresta que outrora exuberante foi praticamente extinta, restando 2% de sua cobertura original. Apenas no Paraná, chegou a ocupar cerca de 85 % do estado. O Pinheiro é um fóssil vivo, presenciou, no período jurássico, o cotidiano de muitos outros dinossauros extintos, em um clima, geologia e geografia, bem diferentes dos atuais.
A espécie que se encontra em extinção climática, é fundamental para a manutenção da base alimentar de muitos animais nativos das regiões altas e frias dos planaltos do Sul e mesmo do Sudeste do país.
Já servia de fonte alimentar dos Kaingang e Xokleng, grupos rivais, originários deste território, conhecedores do manejo de suas sementes, reflorestando áreas para fins alimentares e atração de caça.
A floresta, com indivíduos ultrapassando 40 metros de altura e porte majestoso em forma de cálices gigantes, quando da ocupação do território do Sul do Brasil por colonos de diversas origens, fora dizimada.
A madeira, que a princípio serviu para a construção de casas, cidades e exportação, sem uma política de replantio do recurso, teve um ciclo econômico importante, porém, extrativo.
Por volta do ano de 1920, grandes áreas remanescentes foram queimadas para dar espaço a expansão do café. Certa vez, perguntei ao meu avô por que se cortaram os pinheirais sem a preocupação do replantio. Ele me disse, que com a chegada do ciclo do café, a floresta perdera o valor e apenas os “amigos do rei”, conseguiam exportar as madeiras pelas vias férreas.
Se outrora tivéssemos escolas de floresta estudando a dinâmica dos nossos biomas, para replicar o manejo, utilizando-se de múltiplas espécies, poderíamos hoje, manter em pequenas propriedades, – que lucram com a safra sazonal do pinhão, outras espécies consorciadas dos ciclos da bioeconomia florestal do Sul, como a erva-mate, o sassafrás, a bracatinga, a espinheira-santa, a imbuia o cedro as canelas, entre outras.
Hoje, criticamente fragmentadas, os remanescentes florestais servem de banco de sementes para projetos de restauração. Mas a longo prazo, poderiam compor o planejamento e restauração da paisagem natural dos planaltos, pensando na perspectiva de longo prazo de uma bioeconomia, quando matrizes possam gerar novas sementes para o ganho em escala da restauração da cobertura florestal das propriedades rurais, conforme exige a Lei 12.651 de 2012, conhecida como o Novo Código Florestal.
Fragmentos destas florestas estão pouco preservadas em áreas protegidas. Políticas públicas para regenerar e ampliar a oferta de matrizes de araucária, poderiam, no médio e longo prazo, ampliar a oferta da cadeia produtiva do pinhão, gerando uma renda sustentável aos produtores rurais, tornando as paisagens repletas de bosques diversos com Araucárias!
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo, escritor.