Em 2013, tive a oportunidade de visitar com minha família, o Museu Nacional localizado no Parque da Quinta da Boa Vista no Rio de Janeiro, me impressionando com a magnitude do acervo, incluindo o próprio Parque, e o edifício histórico, ex-residência de Dom Pedro II.
Como biólogo, me orgulhei do riquíssimo patrimônio colecionado em grande parte pelo próprio imperador, – um grande incentivador e pioneiro da ciência, tecnologia e inovação à época, trazendo novidades como telefonia, ferrovia, telégrafo, e uma robusta coleção de história natural.
Passeamos com meu filho Pedro, de sete anos, entre meteoritos, ossadas de dinossauros, plantas fossilizadas, animais taxidermizados, insetos multicoloridos, cerâmicas indígenas, múmias e artefatos egípcios.
Admiramos o rico acervo etnológico e antropológico que revela as origens do povo brasileiro e da humanidade, e a reconstituição do rosto de Luzia, uma das descobertas arqueológicas mais importantes do Brasil, com cerca de 12.500 a 13.000 anos.
Como se sabe, na noite de 2 de setembro de 2018, um incêndio de grandes proporções atingiu a sede do Museu Nacional destruindo quase a totalidade do acervo com vinte milhões de itens catalogados, constituído ao longo de duzentos anos,
Uma tristeza enorme me consumiu naquela noite, pensando na displicência que temos no Brasil com patrimônios culturais, acervos, ciência e museologia. Um curto-circuito em uma rede elétrica sucateada ateou fogo ao que mais nos diferenciava como povo, o orgulho de pertencimento sobre aquele acervo.
Quem teve a oportunidade de visitar museus ao redor do mundo sabe o quanto essas experiências culturais transformam vidas, especialmente a juventude, de forma gratuita e inesquecível.
Quase sete anos depois do grave incidente, me alegra saber que o Museu Nacional, ainda de maneira experimental, reabre para o público.
O meteorito Bedengó, – que representa o elemento do universo, recepciona o visitante na entrada. Encontrado na Bahia em 1784, por decisão de Dom Pedro II, foi levado ao museu, em uma operação desafiadora para a época.
Do prédio restaurado, duas estátuas de mármore de Carrara foram recuperadas, e frases reflexivas estão dispostas ao público nas escadarias.
Um esqueleto de cachalote suspenso no teto, “flutua” sobre os visitantes, mostrando as dimensões oceânicas que a ciência pode nos oferecer para entender o mundo.
Meu avô, entomólogo autodidata, dizia que fazer ciência no Brasil exige resiliência e paciência. Porém, quando se consegue financiamento, os ganhos para toda a sociedade são evidentes.
Fica o convite para visitar o novo Museu Nacional.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, Mestre em Conservação da Natureza, Biólogo e Escritor.