A Frustração da COP29

A Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29) encerra-se hoje (22/11) no Azerbaijão.

O tema central foi a transferência de recursos dos países ricos para as nações em desenvolvimento, com foco na transição energética e na adaptação às mudanças climáticas.

Desde o Acordo de Paris, em 2015, a promessa de repasse de US$ 100 bilhões anuais para apoiar os países em desenvolvimento na mitigação dos efeitos climáticos nunca se concretizou.

Agora, o objetivo era de se elevar esse montante para US$ 1 trilhão por ano até 2030. No entanto, as expectativas não lograram êxito. Especialistas presentes na COP29 apontam que, mais uma vez, os compromissos financeiros podem ficar apenas no papel.

As negociações enfrentam atrasos e dificuldades comuns a eventos que envolvem mais de 190 estados membros, cada um com demandas específicas.

No momento, discute-se a transferência de cerca de US$ 250 bilhões anuais – um quarto do valor ideal –, sem clareza sobre os mecanismos de repasse ou a responsabilidade histórica dos países industrializados que contribuíram para a crise climática.

A proposta atual sugere que o fundo climático inclua contribuições de países em desenvolvimento que se voluntariem, além de organizações da sociedade civil.

No entanto, o compromisso global de limitar o aquecimento a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, estabelecido na COP21, já foi ultrapassado em 2023, demonstrando o agravamento da crise.

A COP29 aconteceu em meio a tensões políticas globais que diminuíram as chances de compromissos significativos para a descarbonização.

Há uma sensação generalizada de que as nações industrializadas, que enriqueceram emitindo grandes volumes de carbono, não demonstram disposição em compensar as nações mais vulneráveis.

A reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos traz ainda mais incertezas. Sua administração tende a intensificar o uso de combustíveis fósseis, como petróleo e carvão, inclusive com práticas predatórias como o “fracking”.

A próxima COP30, no Brasil, será uma nova oportunidade para tornar esses compromissos efetivos e criar mecanismos de repasse de recursos para as nações mais afetadas pelas mudanças climáticas. Enquanto isso, o “pálido ponto azul”, como diria Carl Sagan, avança para o temido “ponto de não retorno”, alertado pelos cientistas.

 

Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.

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