A Floresta da Tijuca e seu Pioneirismo na Restauração Florestal

Em 1860, durante o Segundo Império Brasileiro, o Rio de Janeiro, capital do país a época, enfrentava uma grave escassez de água. A expansão da cidade, que avançava morro acima, devastou a Floresta da Tijuca, resultando no corte seletivo de árvores e no plantio de cana-de-açúcar e cafezais.

Não demorou muito para que as nascentes secassem, o microclima ficasse mais quente e o déficit hídrico para a cidade resultassem na necessidade de tomar medidas inovadoras que seriam hoje denominadas de Soluções Baseadas na Natureza (SBN).

Em resposta a essa crise, o Imperador Dom Pedro II ordenou, em 1861, que a equipe do Major Manoel Gomes Archer replantasse as árvores em áreas desapropriadas para recuperar as nascentes degradadas. Embora essa restauração tenha sido atribuída apenas ao militar por muito tempo, agora se busca reconhecer também os escravizados que contribuíram para essa importante iniciativa.

Recentemente, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro reparou o apagamento racial, resgatando os nomes de pessoas como Eleutério, Constantino, Manoel, Mateus, Leopoldo, Maria, Sabino, Macário, Clemente, Antônio e Francisco. Esses indivíduos, que ficaram sem sobrenomes na história, agora são reconhecidos no Livro dos Heróis e Heroínas do Estado do Rio de Janeiro, como responsáveis pela restauração florestal entre 1861 e 1874, utilizando mais de 100 mil árvores.

Para essa restauração, foram empregadas cerca de 107 espécies, principalmente da Mata Atlântica, cultivadas em viveiros que provavelmente estavam onde hoje se localiza o Jardim Botânico do Rio de Janeiro, criado em 1808 por Dom João VI – avô do imperador, com o objetivo de aclimatação de espécies vegetais originárias de outras partes do mundo.

Atualmente, a área reflorestada que faz parte do Parque Nacional da Tijuca, criado em 1961, abriga árvores com mais de 160 anos, distribuídas em quatro extratos florestais, caracterizando uma floresta em bom estado sucessional. Hoje, essa área florestada, abriga pontos turísticos icônicos, como o Cristo Redentor, a Vista Chinesa e as Paineiras.

Em 2023, o Parque Nacional recebeu mais de 4.464.257 visitantes, gerando R$ 26 milhões em receita no ano de 2022.

A Floresta da Tijuca desempenha funções essenciais de SBN, como regulação climática e hídrica, e é um exemplo pioneiro e bem-sucedido de restauração florestal em larga escala.

Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.

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