No ano de 1987, como estudante de biologia no Paraná, ganhei do Instituto de Estudos Amazônicos, uma viagem para conhecer a luta dos seringueiros em Xapuri – AC, para a criação de reservas extrativistas.
Andando entre varadouros dos seringais do Acre conheci diversas lideranças do movimento, como Chico Mendes – à frente do Sindicato Rural dos Trabalhadores de Xapuri, Raimundão, Júlio Barbosa entre, outros. Na colocação de Júlio Barbosa – de onde tirei essa foto, estavam os “santinhos” de Marina Silva e Chico Mendes muito jovens, se candidatando a pleitos estaduais. Foi a primeira vez que ouvi falar de Marina Silva.
Depois, como integrante da ONG Mater Natura –, acompanhei sua trajetória como atuante senadora, pautando os projetos referentes a direitos sobre propriedade intelectual de produtos originários da nossa sociobiodiversidade.
No seu primeiro mandato como Ministra de Meio Ambiente, pude estar mais próximo dela, participando do exitoso Programa Áreas Protegidas da Amazônia – ARPA e do Projeto Corredores ecológicos.
Ouvir Marina discursando sempre foi uma aula primordial de alguém além de seu tempo. Me lembro que ao ser abordada sobre suas cores e tendências políticas dizia que não estava nem a esquerda e nem à direita, mas sim, à “frente”. Não é à toa que ganhou renome internacional nas questões ambientais por pregar um discurso de sustentabilidade à longo prazo.
Quando foi covardemente destratada no Senado Federal por homens brancos, ruralistas, misóginos e racistas que tem uma pauta de desmonte de todos os ganhos civilizatórios que o país adquiriu na área ambiental, refleti o quanto grande é Marina. E quanto retrógrado se encontra o Congresso Nacional.
Marina possui um histórico de resiliência. Ela sabe que somos fortes na pauta da sustentabilidade, detentores das maiores reservas de água doce do planeta, possuidores da maior biodiversidade planetária, de mais 305 etnias e 274 línguas indígenas com suas riquezas potenciais para o desenvolvimento de novos produtos potencial proporcionados pela bioeconomia.
De uma infância pobre nos seringais, conseguiu se alfabetizar “no pequeno quarto da casa grande”, em busca por uma formação superior, nunca abandonando suas origens e sua luta pelo que chamam no Acre, de direito a uma “florestania” – em um estado que possuía exuberantes florestas, repletas de castanheiras, seringueiras, mognos e vida.
Marina Silva, poderia ter sido a escolha ideal para a sucessão de Lula ao final do seu segundo mandato. Não foi.
Ele optou por Dilma Rousseff e seus “Belos Montes” de problemas ambientais e um histórico de conflitos, falta de empatia e de diálogo com um Congresso reativo, cujo final da história, bem sabemos.
Marina deixa o governo e rompe com o PT. Mas com luz própria, em 2010, candidatou-se pelo PV a presidência da república, obtendo mais de 19 milhões de votos. No ano de 2014, assumiu a candidatura a presidente pelo PSB com mais de 22 milhões de votos. E em 2018, pela Rede Sustentabilidade, disputa pela terceira vez a presidência da República.
Lula se reconcilia com ela, e a coloca novamente no MMA. Mas, sem uma visão progressista, novos conflitos começam a externalizar. Recentemente ele veio a público criticar os ritos do licenciamento ambiental para a exploração de petróleo na foz do rio Amazonas, dando cargas a esse mesmo congresso retrógrado quando diz que o Ibama estava de “lenga-lenga” e parecia ser “contra o governo”.
Enfim, em uma país que deseja sobreviver não somente às mudanças climáticas, mas a uma nova geopolítica mais beligerante, se Lula, tivesse apoiado Marina Silva para presidente com seus milhões de votos e carisma, e não Dilma Rousseff, quem sabe, estaríamos em um novo patamar civilizatório.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.