Termoelétrica no Quadradinho?

Socorro! Uma usina termoelétrica vizinha ao Congresso Nacional? Pode isso? A depender dos políticos, sim. Mas haverá resistência!

Recentemente uma importante mídia local noticiou a intensão de se implantar, a menos de 35 km do Congresso Nacional, uma usina termoelétrica sem uma devida consulta pública.

Os impactos serão alarmantes: supressão de cerrado remanescente, poluição do ar e da água, além da remoção de uma escola que “atrapalha” os planos dos interessados.

Quando Juscelino Kubitschek decidiu construir Brasília, apostou em um futuro promissor e sustentável para a nova capital. Projetada por Oscar Niemeyer, Lúcio Costa e Joaquim Cardozo, a cidade nasceu como símbolo de modernidade. No entanto, ao longo dos anos, se distanciou desse ideal.

Durante o regime militar e depois dele, permitiram-se grilagens, crescimento desordenado e ocupações irregulares, resultando na destruição de áreas verdes e na verticalização de bairros sem arborização urbana e planejamento.

O “Quadradinho”, como seus moradores chamam o Distrito Federal, abriga uma população vibrante e diversa. Com projeção de 3,4 milhões de habitantes até 2030, Brasília já foi referência cultural, do rock ao choro, do samba ao jazz.

Contudo, sua expansão imobiliária nem sempre seguiu princípios sustentáveis. Sempre surgem propostas de criação de novos bairros, por vezes em cima dos mananciais, como na região do Catetinho, ou nos segmentos remanescentes de cerrados do Jardim Botânico e Guará. Esse crescimento sem sustentabilidade se distancia do projeto urbanístico de sua origem.

Na área ambiental, apesar de todo potencial que possui para o ecoturismo, a gestão governamental peca por decisões políticas desenvolvimentistas e insustentáveis. A reciclagem de lixo não ultrapassa 5%, e os resíduos orgânicos, que poderiam ser aproveitados para geração de biogás, caso houvesse investimentos em usinas inteligentes são subutilizados.

Suas Unidades de Conservação, embora organizadas em um sistema distrital, carecem de orçamento e pessoal. Enquanto isso, em Curitiba – Capital do Paraná, todos os parques são interligados por uma linha de ônibus que leva os turistas a uma imersão em educação ambiental, caminhando, consumindo e saindo com impressão positiva do sistema municipal.

O Quadradinho que valoriza sua qualidade de vida, não deseja chaminés maiores que as torres do Congresso poluindo o ar e água além de desmatar e destruir escolas. Realizar o sonho de um progresso sustentável é respeitar o direito da população de decidir sobre seu próprio futuro. Brasília não pode ser palco de retrocessos ambientais. Dom Bosco, que pesadelo!

 

Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.

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