Não surpreendeu o conteúdo das medidas provisórias assinadas pelo recém-empossado presidente estadunidense. Em seu extenso discurso, ao estilo Fidel Castro, retirou novamente o país do Acordo de Paris. Essa decisão deverá impactar a COP 30, que ocorrerá em Belém, em novembro deste ano.
Com o discurso repetitivo de “tornar os EUA grandes novamente”, ele ligou sua metralhadora giratória, impondo uma sobretaxa de 25% aos vizinhos de fronteira, sob a justificativa de conter o tráfico de fentanil e a imigração ilegal.
Afirmou querer retomar o controle do Canal do Panamá, alegando, sem provas, que a China estaria gerenciando o local. Propôs mudar o nome do Golfo do México e, sem fundamento, sugeriu que a Groenlândia estaria melhor, anexada aos EUA do que sob administração dinamarquesa.
Sobre a América do Sul e o Brasil, desdenhou, alegando que a região precisa mais dos EUA do que o contrário. Ainda ameaçou aplicar uma sobretaxa de 100% sobre produtos oriundos dos BRICS, caso o bloco avance na criação de uma moeda própria, afastando-se do dólar.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), abandonada por ele durante a pandemia, foi novamente alvo de críticas sob a acusação de corrupção. Em sua posse, além de criticar a gestão anterior na presença do próprio presidente Biden, revogou o direito de filhos de estrangeiros nascidos nos EUA, serem reconhecidos como cidadãos, desconsiderando a Constituição. Impôs por decreto a validade de apenas dois gêneros.
Para a Europa, sobraram ameaças de sobretaxas e maior pressão para cortes de investimento na OTAN. Ele também anistiou os envolvidos no ataque ao Capitólio em 6 de janeiro, evento que resultou em mortes de policiais e vandalismo.
Do discurso de aliados presentes, incluindo magnatas do setor de tecnologia, destacaram gestos preocupantes, como a saudação nazista feita por um deles. Disse Trump, que agora seu lema seria perfurar, perfurar, perfurar, para retirar o ouro líquido, como se estivéssemos no século XIX e não no XXI, e seus recordes em temperaturas sendo batidos a cada ano.
Enquanto Trump promove isolacionismo e retrocessos ambientais, a China reafirma seus compromissos com a transição para uma economia de baixo carbono.
Ao Brasil, caberá adotar uma diplomacia estratégica entre esses dois gigantes comerciais.
A COP 30 será um teste global importante, mesmo sem a participação do segundo maior emissor de carbono. Esse cenário abre espaço para fortalecer agendas climáticas mais limpas e redes de cooperação que reconhecem que, por mais que bilionários sonhem com Marte, ainda é aqui, neste frágil e pálido planeta azul, que a vida é possível.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.