EUA: O que esperar das políticas ambientais na sucessão presidencial?

O mundo acompanhou atentamente o processo eleitoral dos Estados Unidos, dada sua relevância e complexidade. Entre os dois principais partidos, surgiram candidaturas com visões distintas sobre como conduzir as relações globais. O vencedor foi o ex-presidente Donald Trump, do Partido Republicano, com uma política fortemente protecionista, reafirmando o bordão de “tornar a América grande novamente”.

Trump apresenta uma visão de mundo focada no que considera os interesses diretos dos Estados Unidos. Nessa perspectiva, as políticas ambientais e o restante do continente americano têm pouco destaque. Em seu mandato anterior, ele incentivou o uso do carvão em atividades industriais, inclusive em áreas protegidas, como estratégia para gerar empregos.

Também apoiou a produção de gás natural por fraturamento hidráulico (“fracking”), uma técnica ambientalmente agressiva, que envolve a perfuração do solo e injeção de água, areia e produtos químicos para extrair petróleo e gás.

Embora essa técnica tenha impactos negativos no meio ambiente, especialmente no lençol freático, ela proporcionou autonomia energética aos EUA, que passaram a exportar gás para a Europa, substituindo o gás russo, especialmente após a invasão da Ucrânia.

Esse movimento reforça a lógica de que suas decisões políticas e econômicas, longe de serem aleatórias, visam consolidar a influência norte-americana no cenário global.

Trump demonstrou desinteresse em respeitar acordos climáticos internacionais, como evidenciado na sua saída da COP 21 em Paris. Sua postura autoritária e conservadora atraiu eleitores masculinos, brancos e de perfil tradicionalista, alicerçando sua popularidade em promessas de emprego.

Por outro lado, sua adversária, a vice-presidente Kamala Harris, não conseguiu se desvincular da imagem do atual governo, marcado pela baixa popularidade do presidente Joe Biden.

Nos próximos quatro anos, é improvável que se vejam avanços significativos nas políticas ambientais dos EUA. Pelo contrário, acordos de cooperação internacional, como a doação ao Fundo Amazônico, podem ser revistos ou bloqueados. Fóruns globais sobre metas de redução de emissões de gases de efeito estufa, como o Acordo de Paris, correm o risco de ser desprestigiados ou até abandonados, gerando preocupação entre os parceiros internacionais.

Ainda que seja cedo para prever os movimentos geopolíticos de Trump, sua influência pode impactar outras nações, incluindo o Brasil.

Esse cenário poderá exercer pressão sobre a sucessão presidencial brasileira e sobre pautas ambientais em trâmite no Congresso Nacional, enfraquecendo ainda mais as normas de licenciamento ambiental no Brasil.

 

Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.

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