Não verás país nenhum

O livro distópico de Ignácio de Loyola Brandão escrito em 1981, “Não verá país nenhum”, se assemelha ao que estamos vivenciando hoje. Um deserto amazônico nascendo nos bancos de areia dos rios secos e uma névoa asfixiante de fumaça poluente.

Em tempos de inundações no Sul, seca extrema e incêndios, qual será a prioridade dos “parlamentares patriotas” da bancada ruralista? Se você imaginou que eles focariam em punir crimes ambientais, fortalecer o IBAMA e o ICMBio ou ampliar áreas de conservação, se engana.

Esses parlamentares, alheios ao fato de que o Brasil possui a matriz energética mais limpa do mundo e abriga a maior biodiversidade global, seguem outro caminho.

Dos 25 projetos de lei contrários à proteção ambiental, oito ainda estão em tramitação, favorecendo a anistia de criminosos ambientais, a redução do poder de órgãos fiscalizadores e mudanças nas leis de terras indígenas e áreas de proteção.

Se pensou que eles, poderiam fomentar os princípios de bioeconomia com previsões de ganhos globais de 4 trilhões de dólares podendo chegar, de acordo com o Banco Mundial, a US$30 trilhões, cerca de um terço da economia global até 2050, errou.

Quando cientistas como Carlos Nobre ou Paulo Artaxo nos alertam sobre uma severa crise climática, e as bancadas do boi, da bíblia e da bala, ignoram, tratando a conservação da natureza como “mimimi”. Temos um país que necessita de conserto.

Livros clássicos como: “Antes que a natureza morra” de Jean Dorst (1971), “A demolição do Homem” de Konrad Lorenz (1983), “O mundo em chamas” de Alex Shoumatoff, (1990) – que narra a luta dos seringueiros pela floresta em pé, e o assassinato de Chico Mendes, entre outros, cada um em seu tempo, já denunciavam uma ruptura civilizatória entre a humanidade e a natureza. Mas são taxados como coisa de “bicho grilo”, “abraça-árvores” etc.

Chegamos quase ao cenário ficcional de Loyola Brandão. As queimadas não nos deixam ver país nenhum, causando impactos no abastecimento de água, na saúde pública, na agricultura e na economia.

Se continuarmos nesse rumo, o futuro do Brasil será de destruição. Se estivesse vivo, Renato Russo, gritaria, “Que país e este?” tão atual.

As queimadas impactam o abastecimento, a saúde, a agricultura e a economia. O país precisa de uma grande Concertação para adotar um modelo de desenvolvimento sustentável, respeitando as metas da Agenda 2030 e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.

O futuro não será garantido apenas pelo agronegócio, – que não é tudo, mas pela proteção das pessoas, das águas e das florestas.

Somente a pressão popular, especialmente nas redes sociais, pode impedir que o Congresso avance com este pacote de destruição. Aguardamos a reação do Governo Central.

 

Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo e escritor.

 

 

 

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