Conheci o Pantanal em janeiro de 1989, quando participei do Congresso Nacional de Botânica em Cuiabá – MT e testemunhei o importante trabalho local do fotógrafo Mário Friedlander, no movimento para a criação no Planalto dos Guimarães de uma unidade de conservação para preservar a riqueza daquele ambiente biodiverso e cênico.
Todo o esforço foi válido. No mesmo ano, foi criado o Parque Nacional da Chapada dos Guimarães abrangendo duas unidades geomorfológicas: a do Planalto e a Depressão do rio Paraguai onde fica localizado a planície pantaneira.
Pude ver o Pantanal cheio de água e seus bichos dispersos pelo ambiente. Completamente diferente do drama vivenciado neste ano de seca extrema com severos incêndios florestais criminosos.
Segundo um estudo recente do MapBiomas, o Pantanal sofreu uma redução drástica de 61% de sua superfície hídrica, em relação à média histórica calculada desde 1985.
Neste ano, já foram mais de 3.400 focos de incêndios registrados entre 1º de janeiro e 23 de junho e a fase mais crítica, ainda nem chegou.
Já se sabe, por análise de imagens de satélites, que a maioria destes incêndios, se deu em áreas particulares e de iniciativa humana. Quer dizer, proposital.
Em 2015, a Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, gerou dados econômicos em que a renda da conservação da natureza e do ecoturismo de observação de onças-pintadas no Pantanal representou uma receita anual bruta de 6,8 milhões de dólares, equivalente a mais de 37 milhões de reais em receita atual.
Este exemplo de atividade sustentável, consorciada com o turismo de pesca e de observação de aves são aptidões naturais para este rico bioma que seca.
E seca, devido a inconsequência de sucessivos incêndios que não são severamente punidos com multas. Seca também, porque no planalto, lindeiro ao Parque Nacional, e na cabeceira dos principais rios tributários, o cerrado foi convertido em monoculturas de soja que roubam água do bioma, por meio da irrigação com pivôs-centrais e da captação descontrolada de água dos tributários para a produção insustentável destas mercadorias de baixo valor agregado.
Continuamos praticando um capitalismo periférico onde o lucro das monoculturas é individualizado, mas o prejuízo com o roubo de água de nossos biomas, aliados a incêndios criminosos são socializados.
Necessitamos planos de longo prazo em restauração de nossos biomas, empregando muita mão de obra neste empreendimento estratégico para todos, inclusive, ao agronegócio.
Fica o registro de minha solidariedade ao Prevfogo, aos voluntários, e a todas as brigadas de bombeiros e forças armadas que estão enfrentando esta quente e seca batalha.
Roberto Xavier de Lima – Diretor de Planejamento e Inovação da Neotrópica Sustentabilidade Ambiental, mestre em conservação da natureza, biólogo, escritor.